Fátima Seehagen - bico de pena |
Rosário Fusco em 1952 já levava o artista a pensar quando ao mesmo tempo em que afirmava que "A beleza é a finalidade da arte", perguntava: "Que é arte, que é beleza, que é finalidade?" Chega-se aí, ao meu ver, à finalidade tanto da beleza, quanto da estética e finalmente da arte.
Fátima Seehagen - aquarela |
A ideia geral de beleza estética, entendida socraticamente como produto do espírito, está ligada ao bem, e sendo assim, em si e por si, é absoluta e eterna. Entretanto, o conceito histórico de estética é limitado na medida em que se agrega a uma beleza pré-determinada, pois o elemento particular de cada beleza advirá de conceitos particulares e aí teremos uma beleza sempre singular, mas com uma finalidade múltipla.
A estética é um fenômeno de relação entre o artista e a sua obra, entre o homem e suas formações, livre de conceitualizações, pois ambos se movem, no tempo e no espaço.
A ética, considerada aqui como estética da existência, terá todos os seus conceitos ligados definitivamente à arte e podemos mesmo dizer que será também variável de acordo com os padrões morais e de beleza de cada um. A arte por sua vez, não encontrará a sua principal razão de ser nem nas sensações que provoca nem no seu conceito. Por isto, antes de mais nada, não poderá aceitar uma estética pré determinada, perfeitamente orgânica e lógica, e por isto mesmo, para o artista, asfixiante e enceguecedora.
A criança, assim como o esquizofrênico e o artista,
ao contemplarem algo novo, sentem uma renovada e desconhecida emoção. De
maneira construtiva, de dentro para fora, movidos alguma vezes por impulsos, se
colocam a expressar o belo, na sua maneira de ver, com uma estética totalmente
particular, desenvolvendo assim o seu ponto de vista ético e social. Toda a questão estará então em não confundir a essência absoluta da arte com as suas formas que são aí particulares, relativas e transitórias: para cada sensibilidade um espaço e um tempo; em cada espaço uma sensibilidade por um tempo e a cada tempo uma sensibilidade expressa em cada espaço.
A aplicação então, da arte como recuperação do
potencial ético de uma sociedade, quando esta mesma arte se presta a expressar
a realidade de grupos distintos, será tanto mais louvável quanto maior for o
envolvimento dos orientadores em esclarecer o processo criativo e aproveitá-lo
em suas funções organizacionais de uma sociedade.
- Criar um espaço, intimamente ligado com o seu
tempo, sem dissimular realidades, mas ocupando-se delas e transformando,
através da expressão do ser, o próprio ser humano. Ocupando-se dos novos
conceitos gerados aí para que, no fortalecimento da estética vigente, possa-se
fortalecer uma ética universal, longe de uma cultura caótica que esquece o
artesanato empobrecendo o fazer artístico universal.
Como Mário de Andrade, tantas vezes citado, “eu não
sei o que é belo e nem o que é arte” mas, certamente sei que é belo acreditar que através da arte podemos construir
uma sociedade melhor, tanto ética como esteticamente falando.