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terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

O empenho do artista

“Para mim a arte não tem passado nem futuro.
Se uma obra de arte não pode viver no presente, ela não merece que a contemplemos.”
( Pablo Picasso)



O objeto de arte tem necessariamente a mesma idade do ser humano, uma vez que a manifestação artística faz parte da sua formação, mas historicamente vamos encontrar vestígios desta atividade, apenas há cinqüenta mil anos, no período Paleolítico Superior.

De lá para cá, como que obedecendo a uma função constante, a arte tem passado por ciclos de representações figurativas e realistas e outros de representações estilizadas e abstratizantes. Atravessando estes períodos, os estilos (ismos) ou “escolas” se apresentam num desenrolar que pode parecer infinito e confuso para um observador menos avisado.

Não nos cabe aqui discorrer sobre as diversas “escolas” de arte que se sucederam no decorrer da história, no entanto, estas alterações que percebemos são relativas à aparência externa do objeto de arte, ou seja, à forma com que o artista se comunica, buscando o aprimoramento da maneira de se expressar, o que naturalmente dependerá tanto da técnica como dos materiais utilizados e, não por último da capacidade pessoal de cada um. Estas alterações não só aconteceram durante todo o período historicamente conhecido, no desenvolvimento das manifestações artísticas através dos tempos, como se repetem dentro de cada escola particularmente, assim como, no desenvolvimento de cada artista individualmente.

Chega-se aí a uma curiosa pergunta:

-     Representam estas alterações um progresso dentro da arte? Sendo assim, a arte contemporânea pode ser considerada mais evoluída e conseqüentemente mais bela que a arte dos nossos antepassados?

Ao meu ver, a realidade não é bem esta. Mesmo acreditando que a arte primitiva representa um estágio inicial de civilização, devemos lembrar que a evolução que se seguiu nem sempre aconteceu em todos os campos do conhecimento humano e esta arte primitiva pode perfeitamente exprimir um aspecto formal igual ou superior ao atual.

Preocupado com os índices de produção e consumo, o artista, com raras exceções, procura moldar as suas criações de acordo com os ditames da última “moda”, ou no caso da arte, mais propriamente falando, de acordo com as regras estabelecidas pelo último crítico de arte em evidência, pois a grande maioria dos artistas atuais encontra no crítico o seu público, descaracterizando a principal função da arte que é participar no desenvolvimento da consciência humana.

Henri Matisse
Naturalmente esta violência processada contra a naturalidade do criar artístico, pessoal e intransferível, uma vez que está ligado às vivências de cada um, e também contra o público que irá contemplar o objeto daí decorrente, teria que transformar o artista criador, cuja produção depende da sua inspiração e do seu grau de intuição, em apenas um técnico, de boa qualificação ou não, cuja produção depende apenas de conhecer a teoria e a técnica com maior ou menor profundidade.

Henri Matisse, artista não menos célebre que Pablo Picasso com cuja citação abrimos este artigo, escreveu em sua obra autobiográfica (1908):

“Sonho com uma arte de equilíbrio, de pureza e serenidade, desprovida de temas perturbadores ou deprimentes; uma influência tranquilizadora e calmante sobre o espírito.”

A busca da harmonia e do perfeito equilíbrio em todas as criações, visando a mais perfeita representação do belo, soerguendo o criador e o contemplador através das sensações a partir daí geradas deve ser o empenho de todo aquele que queira praticar uma arte verdadeira.















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