Imhotep |
Três mil anos antes de Cristo, o arquiteto egípcio Imhotep, da terceira dinastia do
Antigo Império, deixou, inscrita numa pedra, a
primeira confissão de fé abstracionista. Disse esse arquiteto, depois adorado
como deus da Arquitetura, que a verdadeira beleza está numa feliz combinação de
cubos, esferas e cilindros, isto é, formas sem qualquer representação direta
das realidades exteriores.
Dentro desse modo de sentir, estão as próprias
pirâmides. No seu racionalismo e simplicidade geométrica, na sua forma
arquetípica, absoluta e universal, acima das contingências humanas, exprimem uma
abstração: a ideia ou o sentimento da eternidade.
Os gregos antigos preocupavam-se com os mesmos problemas da pintura abstrata ou figurativa, que hoje nos preocupam. As discussões artísticas em Atenas pareciam atuais. Platão, por exemplo, repetia o pensamento daquele velho arquiteto egípcio. Escrevia que a verdadeira beleza, absoluta e eterna, está nas figuras geométricas puras, sem qualquer relação com as formas ou imagens da realidade exterior. Na sua classificação dos artistas, colocava, em primeiro lugar, o filósofo inspirado, conhecedor da verdade - naturalmente ele próprio, pois sem vaidade o homem não vive - mesmo filosofando. Em segundo lugar, o músico e, a seguir, os artistas dos tecidos e bordados, acompanhados dos arquitetos, todos criadores de formas abstratas. Em último lugar, vinham o ator, o escultor e o pintor, que imitavam as formas exteriores e estavam, por isso mesmo, distanciados da verdade.
Ainda na Grécia, in ipsius mente, isto é,
eram ideais, em outras palavras, abstratas, apesar do seu realismo
figurativista.
Jenocrates, um dos primeiros artistas críticos conhecidos, firmara o princípio da liberdade do artista frente à realidade objetiva. Poderia ignorá-la, quanto mais alterá-la! Há uma passagem do orador romano Cícero muito citada. Diz que as criações do escultor grego Fídias, seus deuses, moças, cavalos e cavaleiros do friso do Partenon, não existiam na realidade, mas apenas no seu espírito.
Nos túmulos chineses antigos, encontram-se pequenas
esculturas em jade, de formas caprichosas sem qualquer relação com as imagens
visuais. Simbolizavam as qualidades abstratas do morto – a bondade, o caráter
reto, a constância na amizade, o coração inquieto.
Duzentos anos depois de Cristo, o filósofo Plotino dizia,
em Alexandria, não se limitarem as artes à simulação das aparências dos
objetos. Ao contrário, devem procurar a razão ideal deles da qual nasce o
caráter de todas as coisas.
E para você, qual o limite da arte?
Pintura do sec. V a.C |