“Para mim a arte não tem passado nem futuro.
Se uma obra de arte não pode viver no presente, ela não merece que a contemplemos.”
( Pablo Picasso)
O objeto de arte tem necessariamente a mesma idade do ser
humano, uma vez que a manifestação artística faz parte da sua formação, mas
historicamente vamos encontrar vestígios desta atividade, apenas há cinqüenta
mil anos, no período Paleolítico Superior.
De lá para cá, como que obedecendo a uma função
constante, a arte tem passado por ciclos de representações figurativas e
realistas e outros de representações estilizadas e abstratizantes. Atravessando
estes períodos, os estilos (ismos) ou “escolas” se apresentam num desenrolar
que pode parecer infinito e confuso para um observador menos avisado.
Não nos cabe aqui discorrer sobre as diversas “escolas”
de arte que se sucederam no decorrer da história, no entanto, estas alterações
que percebemos são relativas à aparência externa do objeto de arte, ou seja, à
forma com que o artista se comunica, buscando o aprimoramento da maneira de se
expressar, o que naturalmente dependerá tanto da técnica como dos materiais
utilizados e, não por último da capacidade pessoal de cada um. Estas alterações não só aconteceram durante todo o
período historicamente conhecido, no desenvolvimento das manifestações
artísticas através dos tempos, como se repetem dentro de cada escola
particularmente, assim como, no desenvolvimento de cada artista
individualmente.
Chega-se aí a uma curiosa pergunta:
- Representam
estas alterações um progresso dentro da arte? Sendo assim, a arte contemporânea
pode ser considerada mais evoluída e conseqüentemente mais bela que a arte dos
nossos antepassados?
Ao meu ver, a realidade não é bem esta. Mesmo acreditando
que a arte primitiva representa um estágio inicial de civilização, devemos
lembrar que a evolução que se seguiu nem sempre aconteceu em todos os campos do
conhecimento humano e esta arte primitiva pode perfeitamente exprimir um
aspecto formal igual ou superior ao atual.
Preocupado com os índices de produção e consumo, o
artista, com raras exceções, procura moldar as suas criações de acordo com
os ditames da última “moda”, ou no caso da arte, mais propriamente falando, de
acordo com as regras estabelecidas pelo último crítico de arte em evidência,
pois a grande maioria dos artistas atuais encontra no crítico o seu público,
descaracterizando a principal função da arte que é participar no desenvolvimento
da consciência humana.
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Henri Matisse |
Naturalmente esta violência processada contra a
naturalidade do criar artístico, pessoal e intransferível, uma vez que está
ligado às vivências de cada um, e também contra o público que irá contemplar o
objeto daí decorrente, teria que transformar o artista criador, cuja produção
depende da sua inspiração e do seu grau de intuição, em apenas um técnico, de
boa qualificação ou não, cuja produção depende apenas de conhecer a teoria e a
técnica com maior ou menor profundidade.
Henri Matisse, artista não menos célebre que Pablo
Picasso com cuja citação abrimos este artigo, escreveu em sua obra
autobiográfica (1908):
“Sonho com uma arte de equilíbrio, de pureza e
serenidade, desprovida de temas perturbadores ou deprimentes; uma influência
tranquilizadora e calmante sobre o espírito.”
A busca da harmonia e do perfeito equilíbrio em todas as criações, visando a mais perfeita representação do belo, soerguendo o criador e o contemplador através das sensações a partir daí geradas deve ser o empenho de todo aquele que queira praticar uma arte verdadeira.